quinta-feira, 15 de outubro de 2009


sempre soube que no dia em que perdesse os meus avós ia perder uma parte enorme do que sou; acho que nunca consegui foi imaginar o quanto. eles sempre estiveram muito presentes na minha vida, apesar de viverem no algarve e eu em lisboa. nem consigo comecar a explicar as mil e uma formas que eles arranjavam de estar sempre lá.

nos 10 meses que passei em barcelona, todos os meses recebia um postal dos meus vovós e mes-sim-mes-nao uma encomenda. foi a primeira vez que vivi no estrangeiro e foi uma grande mudanca na minha vida, senti-me muitas vezes sozinha. eles lá arranjaram maneira de me darem miminhos e minimizar a distancia, sem nunca falhar.

agora olho para trás e, durante todo o tempo que vivi em barcelona, o meu avo já estava doente. nunca isso o fez esquecer do meu postal/encomenda mensais, de conduzir até aos correios de lagoa e escrever uma poesiazinha ou uns disparatezinhos mesmo à vovo zé. quando ele já estava doente demais para poder fazer isso, contra vontade dele, a minha avó tomou essa responsabilidade; nos últimos 2 meses que lá passei, apesar de as coisas já estarem dramáticas por casa e apesar de ela nao conduzir, continuei a receber o meu postal, agora com a letrinha linda mas já tremida da vovó tuta. volto a olhar para trás e, embora ainda nao se soubesse na altura, também ela já estava doente.

continuo a achar inacreditável a atitude que eles sempre tiveram para com todos nós. nao houve uma única vez que fossem ao cascaishopping, e estamos a falar de mais de uma década, em que a minha avó nao se lembrasse de trazer uma caixa de donuts recheados de leite condensado para o meu irmao. eles eram assim, e nós contávamos com eles para tudo.

só que agora nenhum deles está cá. portugal nao é tao casa como era, e à alemanha já nao chegam os miminhos de onde quer que eles estejam.




uma coisa vos posso dizer sobre o céu: nao tem correios ou telefones; se tivesse podem ter a certeza que eles já tinham arranjado maneira de comunicar comigo.

2 comentários:

Rafaela disse...

Linda amiga! Muitos beijinhos

o (grande) autor disse...

a vida não é fodida.
a morte é que é.

enfim.

beijinhos