quarta-feira, 17 de março de 2010


o trabalho vai bem. o nosso artigo foi aceite, e depois de submetido descobrimos uma coisa que abriu caminho provavelmente para o resto do meu doutoramento. nem sempre as reaccoes funcionam, mas vao funcionando com algum esforco, o que está óptimo. estou motivada porque vejo para onde tenho que ir e há vários caminhos a percorrer, espaco para aprendizagem. ontem descobrimos uma coisa que, se funcionar, é possível que vá revolucionar os textbooks. na onda do terem que reescrever capítulos de livros de síntese orgânica e o nosso nome vai ter que ser referido em todos eles. pode nao dar nada (é o mais provável), mas se desse reformava-me daqui a 3 anos.

nunca achei que química fosse a minha vocacao, e retiro em geral pouco prazer do trabalho. mas acaba por ser o trabalho que determina a minha vida; o trabalho nao determina completamente quem sou, mas determina em que circunstâncias o sou. foi por ele que fui para o técnico e conheci a maioria das pessoas que agora constituem a minha vida; foi por ele que vivi em barcelona, o que me levou a mudar radicalmente de objectivos de vida; foi por ele que emigrei para a alemanha por um longo período de tempo, decisao da qual nao me arrependo nada, e me sinto uma pessoa tao diferente da que era quando parti.

portanto, na realidade, tenho apostado muito na componente profissional da minha vida, em detrimento da pessoal, ainda que até agora tenha sido só lucro. e olho para o meu projecto e é o meu bebé, nao quero que mais ninguém lhe mexa. tenho orgulho nele e quero aprender tudo o que puder para o levar o mais longe possível. e sei que é o trabalho, o que fizer e aprender agora, que vai determinar para onde vou a seguir. e eu já deixei de tentar dominar o que acontece na minha vida, agora limito-me a abrir os bracos a tudo o que vier, e quero ir a todo o lado.

trouxe tanta coisa/gente boa à minha vida e sei que vai continuar a trazer. faz-me sentir estúpida todos os dias, sim, mas por isso faz-me sentir em constante evolucao, faz-me lutar para ser melhor. se eu fizer por isso, vai-me levar onde eu quiser ir. custa-me horrores sair da cama e vir para o trabalho, principalmente quando estao temperaturas obscenas lá fora; apetece-me estar sempre de férias ou fim-de-semana, detesto perder horas a fazer pesquisas bibliográficas, cansa-me estar em constante aprendizagem e sempre a ser posta à prova e a pressao que sinto no trabalho faz-me dormir bem 1 noite em cada 10. mas já que passo 12 horas por dia no laboratório a olhar para tubos e espectros, a lavar loica, a sujar as maos e respirar coisinhas más, por muito que o resto da vida vá bem, é bom que também me sinta feliz a trabalhar. e quando cá chego e ponho maos à obra gosto. gosto de quando chego ao fim de uma reaccao que correu bem. gosto quando faco uma coluna e vejo que agora o meu composto está purinho e pronto a usar. adoro quando olho para o espectro de RMN a medo e lá está aquilo que eu tanto desejava! nao acontece tao frequentemente como gostaria, mas quando acontece it makes my day.

tudo o que me separa dos meus objectivos é a preguica e procrastinacao. luto contra elas todos os dias, e é uma luta que requer muita energia. neste preciso momento podia estar no lab a fazer o que tenho para fazer, mas estou aqui a escrever isto. claro que vou fazer à mesma o que tenho para fazer, mas vou ter que ficar cá até tarde e amanha vou estar ainda mais sonolenta que hoje, e portanto procrastinar mais. ciclo vicioso. pescadinha de rabo na boca.

tudo isto para dizer duas coisas:

1. há amores que nao sao amores à primeira vista. há amores que se criam, constroem e nao sao menores por isso. talvez venham a ser até mais consistentes e duradouros, mais reais. sinto que o meu pela química é assim. estou-me a apaixonar por ela e nesta fase sinto que ela está apaixonada por mim.

2. morte à procrastinacao. quem conhecer a cura para isso que me diga, por favor!!!

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