domingo, 19 de abril de 2009


estou no dentista com o meu irmão, sentada à espera da nossa vez, quando o telefone toca. apesar de estar enjoada do cheiro de desinfectante até à medula, ali estou eu, noutro consultório a cheirar a coisas levemente amoniacais com pessoas a passear de sandálias brancas e solas de borracha. o dia começou bem, parece que vai ser um bom dia. é dezembro e o sol brilha. já não recebo uma boa notícia há meses, mas às vezes a única coisa que sobra é a esperança.

apesar de ser a minha tia a ligar e ser demasiado cedo para coisas promissoras, atendo ainda com uma leve esperança na voz.

passados 10 minutos está toda a gente da sala de espera a tentar não olhar especado para mim enquanto eu tento fingir que tudo na minha vida está bem.

passada 1 hora estou a caminho do hospital, porque não há mais ninguém que possa ir buscar as coisas dela. eu é que entrei com ela no hospital e levei as coisas dela, acho que acaba por fazer um certo mórbido sentido ser eu a ir buscá-las. é pena não poder trazê-la para casa desta vez.

o que ninguém me tinha dito é que ela ia estar lá tapada com um lençol.

por isso, do alto dos meus 25 anos de vida, exactamente 1 mês e meio depois de ter visto um dos homens da minha vida pela última vez naquele mesmo andar daquele mesmo hospital, percorro o corredor do 3º andar do hospital da luz pela que me parece a milésima vez, olho para a cara de todo o staff que já me conhece de cor e nem consegue reagir ao desespero e solidão resignados estampados na minha cara, entro naquele quarto às escuras e fico sozinha com a minha avó.



só que se tivesse chegado 3 ou 4 horas antes, se calhar ela não teria estado sozinha quando lutou pela última vez para o ar entrar e ele não chegou.



há muito poucos momentos neste meu quarto de século tão marcantes como este.

Um comentário:

Rafaela disse...

beijinho amiga! és linda!